Haviam passado 33 anos de vida, vi, imensa, areia escapar-se por entre as minhas mãos. Muitas pessoas passaram por mim, umas pararam porque tiveram curiosidade em descobrir-me, outras já não. Mas mesmo aquelas que pararam, rapidamente esquivaram-se e fiquei de novo sozinho.
Tem dias, que acordo assim, dias em que a dor me assola a alma. Penso porque é que a vida me pregou tantas partidas como estas. Será que fiz assim tanto mal? Não sei mas só o tempo me poderá dar esta resposta!
Começava mais um ano lectivo, eu sou Professor de Artes e mais um ano, com as, difíceis, turmas do secundário me esperava.
Um dia chato, cheio de apresentações que nem sei para que servem, só para queimar aulas, conhecemos os alunos aos poucos, ao longo do ano, não num dia!
Saiu da escola já passam das 18h, fui ver o mar. Gosto de me passear, ver o mar bater nas rochas sento-me ali e deixo o tempo passar, queria poder esquecer-me do tempo e ficar por ali.
- Precisa de conversar? Ouço.
Era um rapaz, devia ter cerca de 23 anos. Não o conhecia mas a sua cara não me era desconhecida.
O mais incrível é que eu comecei mesmo a falar, falei como se já o conhecesse a algum tempo. Realmente é bem mais fácil, falarmos do que nos vai lá dentro com pessoas que mal conhecemos.
Ficamos ali horas perdidos, foi muito bom mesmo! Sai sem qualquer sensação de mágoa ou angústia, como estava antes.
Deu-me uma vontade enorme de lhe pedir o número de telemóvel para podermos falar mais tarde:
- Queres trocar o número de telemóvel?
- Para quê? Se os nossos caminhos foram criados para serem cruzados, vamos voltar a nos encontrar por aí.
Virou-me as costas e partiu, pouco depois tinha desaparecido completamente na escuridão da noite. Fiquei pasmado com tamanha maturidade, devia ter vergonha de com a minha idade não ser tão racional como ele o foi.
Agarro nas minhas coisas e vou para casa. Acabei por me deitar com a dúvida de quando o voltaria a encontrar, precisava mas não sabia como.
7:30, o despertador toca e lá estou eu a preparar-me para mais uma jornada, mais um dia de apresentações.
A turma de 12º está a fazer a apresentação e nem lhes presto atenção, pego no papel em branco e finjo tirar algumas anotações
- Sou o Pedro, tenho 22 anos
Aquela voz fez-me arrepiar por completo, parecia-me tão familiar mas não queria acreditar. Fiquei completamente parado, não me conseguia mexer.
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